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Herpes Zóster: O que é e como se prevenir?

O herpes zoster é uma doença infecciosa (conhecida também como cobreiro) causada pelo vírus Varicella zoster, o mesmo que causa a catapora na infância e está presente em 95% das pessoas.
Ele fica dormente durante a maior parte da vida do indivíduo e pode ser reativado em pessoas imunossuprimidas, em que o sistema imune não funciona corretamente, ou após os 50 anos de idade, quando o organismo fica mais suscetível a quedas na imunidade.
Ou seja, resulta da reativação do vírus da varicela zóster de seu estado latente em um gânglio da raiz dorsal posterior.

O professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP Thiago Mattar Cunha, explicou, no Jornal da USP, de uma forma bem clara e objetiva como ocorre: “Quando o vírus infecta o indivíduo, atinge os queratinócitos, que são as células da pele. Por isso, há a formação de lesões características. Em seguida, ele infecta os neurônios sensitivos, também presentes na pele, e segue até encontrar o gânglio da raiz dorsal ou o gânglio trigeminal, no caso do rosto, onde está o corpo celular desses neurônios. É ali que o vírus permanece por anos, em um período de latência, depois que o sistema imune controla a infecção. Se há uma queda no sistema imunológico, ele sofre um processo de reativação e volta a se replicar, a produzir novos vírus, causando uma inflamação no gânglio. Ele faz, então, o caminho inverso: é transportado até a pele e causa as lesões zosteriformes, que também são bolhas. Essa inflamação das células nervosas é responsável por causar a dor intensa”.

A Herpes Zóster é frequente com estimativa de 3 milhões de casos por ano no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Além disso, relatos apontam o aumento do número de casos durante a pandemia de Covid-19.
Dados dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, mostram que uma a cada três pessoas desenvolverá herpes zoster em algum momento da vida.
Apesar de poder atingir indivíduos de qualquer idade, a probabilidade de HZ aumenta com o envelhecer, em especial a partir dos 50 anos. Os riscos também são mais elevados em pessoas imunocomprometidas, a exemplo das que vivem com HIV/Aids, transplantadas, pacientes com câncer e em uso de drogas imunossupressoras.
Prevê-se que, aos 85 anos, 50% dos indivíduos apresentem pelo menos um episódio de herpes-zóster.

DIAGNÓSTICO É CLÍNICO!!
Dor lancinante, disestésica ou de outro tipo se desenvolve no local envolvido, tipicamente seguida de exantema (manhca vermelha) em 2 a 3 dias, geralmente com formação de vesículas. O local geralmente é adjacente a um ou mais dermátomos na região torácica ou lombar, embora poucas lesões satélites possam também aparecer. As lesões são tipicamente unilaterais e não cruzam a linha média do corpo. Com frequência, o local é hiperestésico e a dor pode ser intensa. As lesões comumente continuam se formando durante cerca de 3 a 5 dias.

TRATAMENTO

Tratamento sintomático + Antivirais
É importante ter em mente que o tratamento trata apenas a crise e não o vírus.

RECORRÊNCIA

Menos de 4% dos pacientes com herpes-zóster experimentam outro episódio. Porém, muitos pacientes, em particular idosos, apresentam dor persistente ou recorrente no dermátomo envolvido (neuralgia pós-herpética), que pode persistir por meses ou anos, ou de forma permanente.

Após a crise, o Vírus volta a ficar latente e pode retornar.

COMPLICAÇÕES

A complicação mais comum é a NEURALGIA PÓS HERPÉTICA, quando a dor permanece 4 meses após o início das lesões. De 10 a 15 % das pessoas com herpes podem permanecer com dor crônica. Entre as pessoas com mais 60 anos, 50% podem sofrer esta complicação. A principal forma de prevenir esta complicação é iniciar o tratamento o mais rápido possível.

Herpes Zóster impacta diretamente na qualidade de vida, podendo levar a incapacidade física e até depressão. A doença causa vesículas (bolhas) dolorosas que podem durar semanas, além de complicações como dor crônica e, em menor frequência, infecções bacterianas na pele, fraqueza, paralisia muscular e perda de audição ou visão. Além de outras complicações neurológicas, tais como, Neuropatia motora, Mielite transversa, Meningite, Encefalite pós-herpética, Encefalite auto-imune, Síndrome de Guillain-Barré e Acidente Vascular Encefálico.

A vacina é a ÚNICA forma de se prevenir contra crise de Herpes Zoster para quem nunca teve e contra novos quadros para quem já teve, prevenindo quadros mais graves e suas complicações.

Existem 2 tipos de vacinas contra o Herpes Zoster:

Herpes Zoster Vacina de vírus vivo – Zostavax, fabricada pelo laboratório MSD, Vacina de Vírus Vivo Atenuado (vírus vivo enfraquecido). Aplicada por via subcutânea (abaixo da pele) em uma única dose.

Herpes Zoster Vacina de vírus inativado – Shingrix, é fabricada pelo laboratório GSK.
Ela é feita de fragmentos do vírus. Por isso, ela não é capaz de causar a doença, mesmo em pessoas com imunidade muito baixa. Injeção aplicada de forma intramuscular em 2 doses com diferença entre 2 a 6 meses entre elas. Demonstrando mais de 90% de eficácia na prevenção do episódio agudo.
Esta vacina chegou ao Brasil em junho de 2022, por enquanto apenas em serviços privados de imunização.

Zostavax:

Segundo o órgão de controle de doenças infecciosas do Estados Unidos – CDC:
Evitou 70% das crises de Zoster em pessoas vacinadas entre 50 e 59 anos
Evitou 64 das crises de Zoster entre pessoas vacinadas entre 60 e 69 anos
Evitou 38% das crises de Zoster entre pessoas vacinadas com 70 anos ou mais
Evitou 65.7% dos casos de dor crônica pós Zoster após 9 a 11 anos da vacina em pessoas vacinadas entre 60-69 anos
Evitou 66.8% dos casos de dor crônica pós Zoster após 3 anos da vacina em pessoas vacinadas com 70 anos ou mais

Quem não pode tomar a vacina Zostavax:

Apesar de ser bastante segura, por se tratar de uma vacina de vírus vivo enfraquecido, ela pode ter efeitos adversos maiores e está contra indicada com pessoas com imunidade baixa:
Pessoas em tratamento para neoplasias
Pessoas em tratamento com remédios imunossupressores Transplantados
Pessoas usuárias de corticoide por longos períodos
Paciente com HIV com níveis muito baixo de CD4

Shingrix:

Evitou 96.6% das crises de Zoster em pessoas vacinadas entre 50 e 59 anos
Evitou 97.4% das crises de Zoster entre pessoas vacinadas entre 60 e 69 anos
Evitou 91.3% das crises de Zoster entre pessoas vacinadas com 70 anos ou mais
Evitou 97.6% das crises de Zoster no primeiro anos após a vacinação entre pessoas com 70 anos ou mais
Evitou 84.7% das crises de Zoster após 3 anos da aplicação em pessoas vacinadas com 70 anos ou mais
Evitou 91.2% dos casos de dor crônica pós-Zoster em pessoas vacinadas com 50 anos ou mais
Evitou 88.8% dos casos de dor crônica pós-Zoster em pessoas vacinadas com 70 anos ou mais.

Atenção: quem já se vacinou com a Zostavax, pode e deve se vacinar com Shingrix após 2 meses.

Eventos adversos de AMBAS VACINAS:
Os eventos adversos mais comuns são os locais (dor, edema e vermelhidão), geralmente de intensidade leve a moderada e são transitórios. Cansaço, calafrios, febre e mialgia são eventos adversos sistêmicos também descritos, que se resolvem com analgésicos comuns.

Pela raridade de recorrência da doença em curto prazo, a SBIm sugere que a vacinação seja realizada a partir de seis meses após um episódio agudo de herpes-zóster.

Observações:

  • Não há experiência de uso em gestantes e lactantes, portanto, a vacinação não está recomendada como rotina para esses grupos. Entretanto, uma vez que a vacina é inativada, não há risco teórico para a mulher ou seus bebês.
  • Estudos demonstraram segurança e ausência de interferência na resposta vacinal na aplicação simultânea com as vacinas influenza, pneumocócicas e tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa).
  • Pessoas em uso de antivirais como aciclovir, famciclovir ou valaciclovir podem receber a vacina durante o tratamento.
  • Não há recomendação de intervalo específico para vacinação de pessoas que tiveram episódio agudo de herpes-zóster. A SBIm sugere intervalo de seis meses, mas o período pode ser encurtado para evitar perda de oportunidade de vacinação.
  • A eficácia da vacina inativada é superior à da vacina atenuada. Pessoas que já receberam a vacina atenuada podem receber a inativada caso desejem aumentar a proteção, desde que aguardem dois meses após a última dose da atenuada. É importante ressaltar, no entanto, que o benefício só será alcançado com duas doses da vacina inativada. A vacinação prévia com a vacina atenuada não deverá ser considerada como primeira dose do esquema.
    Fonte: https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis?start=10

Bibliografia:
https://www.drakeillafreitas.com.br/herpes-zoster-saiba-mais/

https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nota-tecnica-sbim-vacinacao-herpes-zoster-shingrix-080622-v3.pdf

https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/herpes-v%C3%ADrus/herpes-z%C3%B3ster
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/pesquisadores-desvendam-mecanismo-da-dor-aguda-no-herpes-zoster/